domingo, 20 de março de 2011

Misto Quente e nada mais, por favor!

Bem, caros, hoje me reservo ao direito de não postar uma idéia profunda mas sim um desabafo frente ao meu desafio matinal na padaria do bairro. Podem rir, essa vale!


O contexto -
Cenário: domingo numa padaria paulistana. 
Participante do desafio: Eu mesma, Kate, carioca radicada em São Paulo, por escolha e não por destino. Defensora da idéia de que o Rio é a cidade mais linda do mundo, mas que "tem coisas que só São Paulo faz por você" !
Objetivo: comer um misto quente no café dessa manhã de domingo.

O início -
O domingo na padaria é um clássico em SP que eu absorvi justamente por apreciar as boas e melhores coisas dessa cidade gigantesca e profissionalizada. E eis que nesse momento, proposto para um relax, lendo um jornal e comendo coisas deliciosas, me acontece um fenômeno que nem eu conhecia.
O pedido do misto quente, aqui, se tranformou hoje pra mim num grande desafio porque a grande mega padaria 24 horas disponível pra nós tem um processo megalomaníaco que se inicia quando a mocinha se aproxima para tomar o seu pedido.

A conversa -
Eu sou uma pessoa tranquila, sorridente, simpática e especialmente no domingo, relaxada quando a matéria é tomar um café da manhã e ler jornal (paulistano) para entender mais da vida em Sampa. Sou calada e ao mesmo tempo converso amigavelmente quando tenho contato seja com quem for, conhecido, desconhecido, bichos só não falo com plantas, por enquanto!

Por bem, o pedido foi feito:
(Kate): _Por favor quero um café pequeno, suco de melancia e um misto quente.

Pronto, caros leitores, nesse momento parece que a palavra "código secreto" foi dito e começaria uma sucessão de perguntas frenéticas e corridas, porque afinal de contas aqui e em NY " time is money" (tempo é dinheiro), e eu que queria somente um misto quente inocente, me sinto no paredão.

(Mocinha):  _A senhora quer que pão? Pão de forma, francês, pão da casa, baguete, etc? 
(Kate): _ (Até aí, tudo bem) Eu quero pão de forma.Obrigada.
Ela continua: _ Integral ou não? Temos sete grãos, com passas, com amêndoa...Com ou sem casca? Com ou sem manteiga?
Eu repondo: _Normal.

Fato é que aqui o normal não é o normal, porque a excelência dos serviços garante ao consumidor escolher qualquer combinação de qualquer coisa ainda que esta não seja a versão normal ou original daquele prato, receita, sanduíche, doce. Enfim, normal é o que você quer!

Penso: seria tão difícil assim o entendimento sobre uma receita normal ou padão de misto quente? 

Seguindo o desafio -
(Kate): _ Olha só, pão de forma normal, com manteiga, sem grãos, sem nada demais. Ok?
(Mocinha): _ Tudo bem senhora, com mussarela, queijo branco? Presunto mesmo, senhora, ou peito de peru defumado siciliano?

Nesse momento, penso nas versões de misto quente que eu já fui apresentada nessa minha vida. Penso até em outros locais onde já morei, diferentes países onde já estive, isso tudo pra ver se entendo a cultura local e compreendo porque raios eu, que só queria um misto quente, tenho que responder a um inquérito sobre as especificidades das milhares de combinações possíveis para fazer esse simples e popular sanduíche!

(Kate): _ (adiciono uma expressão carioca pra ver se ela percebe que sou "alienígena" e me trás o misto mais rápido) Cara, olha querida, eu só quero um misto normal, com pão normal e frios normais. Sabe queijo/presunto/pão aquecidos juntos e com manteiga.

(Mocinha):_ Claro, já trago pra senhora junto com o café e o suco (sorrindo, porque todos aqui são muito profissionais).

Terminada essa etapa desafiadora do pedido, eu me coloco em posição relaxada, abro o jornal e fico à espera daquele que talvez seria o mais fantástico misto quente que eu iria saborear na minha vida!

E num relance, a Mocinha se vira lá do balcão, olha pra mim e solta mais uma pergunta: _ Sem tomate certo, senhora?

Eu suspirei, buscando a educação que recebi tento fingir que sou paulistana para compreender que receita é essa de misto quente que leva tomate !?!?! 

Com  fome a essa altura, consigo sorrir de volta e dar minha última resposta em tom amigável: _ Isso mesmo moça, eu quero um Misto Quente e nada mais, por favorrrrrr (com "r" carioca, só pra dar uma ênfase gostosa).

Desfecho -
Comi o misto quente, tomei meu café e o suco que havia pedido àquela Mocinha simpática que foi muito bem treinada a agradar seus clientes 5 estrelas da padaria 12 estrelas.
Agora, confesso, pra saborear o ambiente de descontração esperado para uma manhã de domingo eu tive que praticar alguns exercícios de respiração e reflexão religiosa na minha pregação de "tenho que compreender o próximo". 

Foi bom, o misto estava fantástico.Desafio cumprido. Uffa!

Moral da história - (adoro isso, sempre tem uma moral no final dos casos)

São Paulo é incrível porque segue à risca aquela história da eqüidade, ao menos quando se fala dos clientes de restaurantes, bares, padarias! Pagando bem, que mal tem pedir um misto quente com o pão diferente que você comeu na Austrália e escolher os frios italianos que são de melhor qualidade?
Mas também não deveria ser nenhum massacre pedir um misto quente, NORMAL, e nada mais.

Bastidores -
Pensamento que me fez rir a cada mordida que eu dava nesse bendito misto quente..." Meu Deus, parece que estou na abertura do Globo Reporter, sabe?" Aquilo de mostrar locais incríveis, animais exóticos com hábitos inusitados.

Transpondo ao misto quente ficaria assim: 
" Hoje você comerá um misto quente raro, feito com pão selvagem de grãos cinzentos colhidos em terras isoladas da China, recheado com queijo de ovelha negra do sul da Tanzânia e com presunto que passou por defumação ecológica numa província exótica da Itália! 

Simplifiquemos a vida, senhores (as)! Porque de complexo, basta o nosso subjetivo humano! 
Eu quero um misto quente, nada mais simples do que isso.

Kate




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